sexta-feira, 10 de abril de 2009

Até o fim...


Quando eu era criança tinha um amigo que era como irmão mais velho, ele era aproximadamente sete anos mais velho, mas por mais que a gente brincasse e ele me fizesse companhia, eu queria ter um irmão de sangue. Pedia constantemente para a minha mãe um irmão, não queria uma irmã, pois ela poderia ocupar o meu lugar de única filha, única neta, única sobrinha e isso não seria nada bom.
Minha mãe me ouviu, engravidou, mas depois de alguns meses perdeu o bebê, um bebê que mesmo eu tendo apenas quatro anos já amava. Lembro-me muito bem do dia em que ela o perdeu, lembro da cara do médico, da expressão de tristeza dos meus pais, da dor física que ela sentiu para conseguir expelir os restos da criança de seu ventre e das minhas lagrimas.
Depois de um bom tempo meus pais decidiram que queriam mesmo ter mais uma criança e então a minha mãe novamente engravidou, fiquei super feliz, acompanhei todo o pré-natal, fui às compras para escolher as roupas do bebê, falava para todos que eu teria um irmão, mesmo sem saber se era menino ou menina. Na noite do dia quatorze de janeiro de 1993 meus pais foram para o hospital, eu fiquei em casa e a minha vizinha ficou cuidando de mim. Então, na madrugada do dia quinze o meu irmão nasceu, mas ele teve que ficar no hospital para tomar banho de luz, fui buscar a minha mãe no hospital e voltamos para a casa sem o bebê, passei a noite toda chorando, eu era criança, não entendia o que estava acontecendo, não sabia que era normal uma criança mestiça ter que tomar banho de luz. Entretanto, no outro dia ele teve alta, então fui com meus pais e a minha ex-tia buscá-lo. Com certeza foi um dos dias mais felizes da minha vida, aquela cara gorda era a coisa mais linda que eu já tinha visto, era o primeiro dia que o vi, mas parecia que já nos conhecíamos há anos.
Como nem tudo é perfeito, os meses passaram e eu comecei a sentir ciúmes, achava que perderia o amor da minha família, que tudo que recebi nos seis anos de minha existência seria transferido para aquela criança. Um dia derrubei-o da cama e comecei a chorar, queria matá-lo, mas tinha medo de apanhar, então chorei mais do que ele para que a minha mãe ficasse com dó de mim. Me lembro também que uma vez derrubei-o dentro do carro, comecei a odiá-lo e nem notava que por mais importante que fosse, ele jamais me substituiria para as pessoas que me amavam, pois amor não se divide, não se subtrai, amor apenas se soma e ele era tão amado quanto eu.
O Victor, sim este é o nome dele, começou a crescer, as brigas aumentaram, a raiva também aumentava, mas um dia estávamos no interior e um menino idiota quis bater nele perto de mim, não pensei duas vezes e fui pra cima do menino, bati muito nele, pois por mais que eu falasse que odiava o meu irmão, no fundo sabia que eu o amava e que era minha obrigação protegê-lo. Quando estava na pré adolescência, ele me irritava muito, me atrapalhava nas conversas com as minhas amigas, contava tudo que eu fazia para os meus pais e eu tinha que namorar escondido.
Na fase da minha adolescência era pior ainda, comecei a sair, a trazer algumas pessoas para a minha casa e ele não entendia o porquê eu gostava tanto das pessoas que não tinham meu sangue e o desprezava tanto, quando trouxe um namorado para casa, ele tinha muito ciúmes, fazia um inferno nas nossas vidas, me irritava a ponto d’eu falar constantemente o quanto o odiava e o quanto desejava sua morte.
O tempo passou, as minhas decepções vieram, o Victor cresceu, as brigas diminuíram e eu percebi que ele era importante demais na minha vida, cada vez gostava mais de conversar com ele, mas ainda me irritava bastante. Alguns amigos se foram, o namorado me deixou, alguns colegas me decepcionaram e ele sempre esteve ao meu lado, sem interesse algum, nunca precisei dar presentes, dinheiro ou tratá-lo bem, ele apenas gostava de mim.
Quando criança meu pai dizia que eu tinha que me dar muito bem com ele, pois um dia seriamos só nós dois, que quando fossemos adultos e não mais tivéssemos nossos pais vivos, teríamos que nos apoiar um no outro. Graças a Deus, não precisei perder meus pais para entender isto, mas percebi que ele faz parte de mim, vejo muito de mim nele e muito dele em mim. O Victor é com certeza o melhor irmão que eu poderia ter, não o trocaria por nada e nem ninguém, ele é alguém que consegue me entender mesmo quando eu não quero falar nada, alguém que faz parte da minha vida, do meu mundo e que eu não saberia viver sem.
O meu irmão é sem dúvida alguma, uma das pessoas mais especiais da minha vida, alguém que eu me preocupo, que eu desejo o bem, que as vezes me decepciona, outras me dá conselhos, muitas me orgulha e que mora para sempre no meu coração. Por toda a eternidade será muito amado, pois existe ex-amigo, ex-colega, ex-mulher, ex-namorado, ex-marido, mas não existe ex-irmão e para sempre tudo que eu puder fazer para o bem dele, farei sem pensar em mais nada, pois ninguém neste mundo consegue o substituir.
Jamais imaginei escrever este texto, nunca pensei que ele ocuparia um lugar tão imenso no meu coração, que eu me alegraria com cada música que ele aprende a tocar, com cada nota alta que ele consegue tirar, com cada manobra de skate que ele aprende a dar, que ficaria feliz por ele encontrar uma namorada linda e que o ama de verdade, por vê-lo correr atrás das coisas que deseja e que me orgulharia tanto em dizer aos demais que ele é o meu irmão, o irmão que só eu tenho e terei para todo o sempre.

2 comentários:

Ana Claudia Conde disse...

Caraaaaaaaaaaaaaaaaamba Tata, este texto é bem forte...como sempre com muito sentimento...adoro a maneira q se expressa, conseguimos sentir isso tbm. Bjãooo gataaaa

Unknown disse...

Amei o texto, muito emocionante!!!Me identifiquei muito nossas histórias são muito parecidas, tb perdi um irmão antes e a Juli é 7 anos mais nova q eu, tb ja pensei em mata-la, mas hoje a amo mais q tudo nessa vida =D


Por isso digo, seja bom com seus irmãos...Eles são seu melhor vínculo com seu passado e aqueles que, no futuro, provalvelmente nunca deixarão você na mão.

;* flor